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Minha história com a depressão

  • Foto do escritor: Ana
    Ana
  • 7 de abr. de 2020
  • 5 min de leitura

Fiz um diário em um momento muito difícil da minha vida. E esse é um dos textos que está nele...


Eu sempre tive um ritmo bem frenético de vida. Trabalhava muito, estudava muito, tinha uma vida social agitada, fazia cursos, ajudava as pessoas, cantava num coral, tocava numa banda gospel. Então sempre faltavam horas nos meus dias!


O trabalho sempre se sobressaia na minha carga horária. Eu sempre fui muito certinha e nunca negava nada, então isso fazia com que me passassem sempre mais responsabilidades no trabalho. E eu gostava disso, do reconhecimento, e isso me fez crescer dentro do meu trabalho.


Eu achava que tinha que ter um cargo bom para provar para todos a minha capacidade. Eu tinha que provar o meu talento, a minha dedicação, as minhas habilidades. E eu sou uma pessoa muito perfeccionista, e que se cobra muito. Tudo tem que estar sempre bem feito, impecável. Então: carga de trabalho + perfeccionismo + auto cobrança, sabem o resultado né?


Eu não vi a depressão chegar. Ela chegou silenciosa... primeiro com as noites mal dormidas, insônia. Depois com a irritação, explosões de raiva. Aí veio a ansiedade, onde eu fui no médico clinico geral, expliquei que estava um pouco estressada no trabalho e ele me passou um ansiolítico fraquinho para me ajudar. Eu achava tudo normal, eu trabalhava demais, estava cansada, e precisava de um remedinho para me ajudar. Isso ia passar nas férias e eu voltaria nova em folha.


Ter um cargo mais alto dentro de uma empresa requer muita responsabilidade, e junto vem a cobrança de todos acima de você. Saber lidar com isso é muito importante, principalmente quando se é mulher e só tem 26 anos, no meio de pessoas com muito mais experiencia que você e que querem ver resultado. E quem te ensina a lidar com isso?


Eu lidei com isso como uma esponja: fui sugando tudo e guardando. Esse foi meu pior erro!

A mais ou menos um ano e meio atrás a esponja saturou, não conseguia mais absorver nada, e vazou...


Eu fui parar no hospital com muita dor no peito, extremidades do corpo dormentes, tontura, dor de cabeça e tremedeira incontrolável. Cheguei lá, passei pela triagem, mediram pressão, batimentos, febre... fui passada para o médico. Quando entrei na sala do médico ele olhou para mim e perguntou o que havia acontecido. Eu mais do que prontamente respondi que estava ali justamente para saber.


O médico olhou bem no fundo dos meus olhos e disse que meus sintomas eram de quem estava infartando, mas que meus sinais vitais estavam normais. Ele queria saber o que realmente me levou ao hospital com esses sintomas.


Aquela pessoa que nunca havia me visto na vida fez a unica pergunta que eu precisava ouvir naquele momento... e a esponja vazou, só que pelos meus olhos. Chorei muito e disse que estava muito estressada no trabalho, que a carga estava grande, mas que eu havia chegado onde eu queria e não podia estar naquele estado.


Ele me perguntou se eu tomava algum remédio e respondi sobre o ansiolítico, ele dobrou a dose do remédio e disse que iria me dar 15 dias de atestado para descansar. Nesse momento me exaltei, como assim 15 dias de atestado? Eu não podia me afastar da empresa naquele momento! Imagina se eu digo para o meu chefe: "olha só, eu preciso ficar 15 dias de atestado porque estou muito estressada", sem chance né!


O médico me olhou e perguntou quantos dias eu poderia me afastar, e eu respondi sem nem pensar: - Nenhum!!!!


Ele me deu 3 dias de atestado e disse para eu pensar no que aconteceu e descansar. Ele me deu um comprimido bem forte para eu tomar quando chegasse em casa, para aliviar os sintomas.


Cheguei na empresa, expliquei mais ou menos a situação (claro que falei que não era nada), e disse que precisava da tarde para descansar e que no outro dia viria nova em folha. Era o certo a fazer!


Cheguei em casa, tive outra crise de choro contando o que havia acontecido ao meu marido, ele me deu o remédio e disse para eu dormir, que depois eu acordaria melhor. Realmente, acordei melhor, e já ajeitei tudo para ir trabalhar no outro dia.


No outro dia, quando o despertador tocou, nova crise... mesmos sintomas novamente... Meu marido disse pra eu ficar em casa, já que tinha o atestado. Tentei ir trabalhar, mas não deu mesmo, eu precisava dirigir até o trabalho, e fiquei com medo. Então avisei a empresa e fiquei em casa.


Mais um dia de descanso e estarei nova, pensei comigo mesma. No outro dia, toca o despertador e novamente passo mal. Nesse momento estou muito assustada, pensando: "Meu Deus, o que é isso?". E resolvo ficar em casa mais um dia.


No outro dia toca o despertador, eu começo a sentir os sintomas, mas estavam mais tranquilos, então decido levantar e ir trabalhar, até porque meu atestado já havia acabado. Chego na empresa e os sintomas começam a aumentar, mas tento não aparentar para ninguém. Quando vejo que não vai dar para ficar ali parada, resolvo passar pelo médico da empresa.


Explico toda a situação, ele me examina, e pra variar os sintomas estavam ali, mas os sinais vitais estavam, perfeitos. Ele olha pra mim e me diz uma coisa que é dificil assimilar de primeira: - Vou te dar dois dias de atestado e você procura um psiquiatra, você precisa de ajuda especializada.


Aquilo foi uma bomba. Sai da sala do médico e fui correndo para a sala de uma colega muito próxima a mim. E despejei tudo o que estava sentindo: Chorei, perguntei como eu ia dizer para os gerentes que tinha mais dois dias de atestado para procurar ajuda especializada. Eu não podia ir embora de novo, eu precisava estar ali, coordenar a equipe.


Ela me olhou e disse outra coisa amarga de se ouvir: - Concordo contigo, você tem que estar aqui para coordenar a equipe e não deixar o trabalho parar, mas adianta tu estar aqui assim? Vai no médico e segunda volta melhor para trabalhar.


Foi um sentimento de derrota para mim, como eu havia chegado naquele ponto? Eu sempre fui tão forte! Sai da empresa, fui no psiquiatra, contei tudo o que havia acontecido (em meio a muito choro, porque nesse momento eu não me controlava mais), e ele falou algo que eu senti como um soco no estômago: - Você está com depressão e sintomas de síndrome do pânico.


Caiu meu mundo, como assim síndrome do pânico? E ele me explicou que o que eu sentia era uma crise de pânico, era a forma de o meu corpo colocar para fora todo o estresse, pressão, tudo o que eu vinha guardando por tanto tempo.


Ele me deu mais um remédio para tomar junto com o ansiolítico que eu já tomava, aumentou a dose do ansiolítico e me deu um tarja preta para eu colocar embaixo da língua em momentos de crise. E sai de lá com uma semana de atestado, para descansar enquanto os remédios iniciavam o efeito.


A sensação foi horrível. Descobrir que eu estava doente. O trabalho foi a última gota, mas o copo estava sendo enchido durante a minha vida inteira. E foram meses de luta até eu me sentir bem novamente. Muito remédio e horas de terapia. Muito tempo sem ir em lugares com muitas pessoas. Muito tempo sem dirigir. Muito tempo sem vontade de sair de casa. Muito tempo sem sorrir ou ver sentido nas coisas. Sair do emprego. Deixar os compromissos de lado. Foram muitas mudanças.


Mas o que eu posso dizer é que aprendi muito com esse processo. Que só quem vive essa doença realmente a entende. Que a família e os amigos são o melhor remédio em momentos como esse. Que um emprego não te define, e nem define a tua competência. Que a vida deve ser vivida intensamente, mas que quando seu corpo pede para dar uma pausa, você deve ouvir. Que remédios amenizam sintomas, mas que só quando nós olhamos a raiz do problema é que conseguimos resolver.


Foi difícil escrever... Mas foi transformador.

 
 
 

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