Relato de uma Quarentener - parte II

Sabe o que eu sinto mais falta nesse isolamento social? Abraços.

Sim! Abraços.

Não é sair sem preocupação, ou não usar máscara, ou ainda tomar chimarrão em uma roda de amigos. O que eu sinto mais falta, e que está no topo da lista, é bem menos complexo.

Eu sou uma pessoa que gosta de abraçar. Gosto da troca de energia e carinho que o envolvimento de dois braços trás. Gosto da sensação de aconchego e segurança que o abraço nos dá. Gosto de sentir o pulsar do coração das pessoas.

E é muito difícil ver as pessoas e não poder abraçar. O instinto faz eu dar um passo em direção ao abraço, e a razão me faz dar dois passos atrás.

Me disseram que meus abraços estão guardados. No momento certo eles poderão estar livres novamente. Livres.

Então, enquanto aprisiono meus abraços, tento encontrar novas formas de deixar livre a intensidade de sentimentos que habita em mim. Porque o abraço fala aquilo que palavras muitas vezes não conseguem alcançar.

O abraço une as almas, acalenta os corações e preenche o silêncio.

O abraço suaviza os problemas e ameniza as tristezas.

E não tem lugar melhor que dentro de um abraço.

É difícil ser uma quarentener. Mas estou guardando os meus abraços bem juntinho do coração. Abraço não tem prazo de validade, e só se intensifica com o tempo.

Esse isolamento social me fez valorizar o que de mais simples existe, e perceber que muitas vezes damos mais importância ao ter, ao invés de ser e viver.

E o que mais me faz ser eu mesma e me sentir viva do que um abraço?

No momento, evitá-lo.

O meu zelo e carinho para com as pessoas foi modificado, temporariamente, de um abraço bem apertado para orações e mensagens. E nem por isso possuem menos amor. Na verdade, possuem mais.

E ressignificando o abraço, percebo que ele é a demonstração mais sincera de sentimentos, mas não é a única.

E vamos aprendendo a abraçar das maneiras mais inusitadas e fantásticas. Porque o abraço não está somente em braços se entrelaçando, está no coração.